davidb

quinta-feira, outubro 27, 2005

Quando um velho.

Já não há ninguém para ouvir minhas histórias.
Isso faz de mim um nada, uma coisa imprestável. Afinal de contas, o que somos senão um amontoado de vagas histórias misturadas e confundidas entre si?
Eu fui criança. Brinquei como todas. Às mesmas maneiras, costumeiramente igual a elas. Depois cresci e me tornei um adolescente paquerador. Tinha um talento vívido para conquistar as mulheres, alias acho que esse mérito ainda me é pertinente, mas não tenho porquê exercitá-lo. Trabalhei em diversos lugares. Conheci pessoas e pessoas. Vivi incontáveis histórias de riso, e algumas tragédias também. Casei, fiz filhos e meus filhos fizeram de seus filhos meus netos, a quem devo minha alegria ainda presente de viver. Mas minha história está se acabando. Hoje eu velho e solitário, num futuro muito próximo sem vestígios da minha existência. Eu fui só mais um dentre todos nós. Sem destaque especial, sem grandes conquistas, sem fama e nenhuma nova surpreendente descoberta. Vivi como me foi possível. Construí uma família, um lar e criei vidas para ouvirem minhas histórias. Para que eu não acabe quando morrer, pois hoje não tenho grandes assuntos a patilhar com o mundo. Apenas as coisas de que pude fazer parte no passado e minhas experiências frustradas e bem sucedidas. Tento me contentar com isso.

É tudo que se tem quando um velho ordinário. Quando um velho.